Vim de muitos sítios. De África, pelo sangue e pela infância, e de avião montes de vezes. De casa, de uma família empenhada civicamente há gerações que acumulou livros, artes, viagens, histórias e gargalhadas bem puxadas em casas sempre cheias e abertas aos amigos. Nas famílias grandes nascem muitos mas também, claro, morrem muitos. Donde, «I see dead people». Sou estofada a mortos a quem muito aprecio. Como diz o meu agora único e querido Tio, Professor Hermano Carmo,
«contingências de vária ordem determinaram a dispersão do seu agregado familiar por outros territórios, como a Índia, Angola, Timor, Brasil e, mais tarde Macau e China»
Também por causa deles comove-me a ternura em todas as suas versões e chateiam-me sobretudo a deslealdade e a mesquinhice.
Vim também da FCSH da Nova onde me tatuaram para sempre Profs. e Colegas do melhor quilate. Nos jornais formaram-me grandes Mestres e Mestras, como a estupendíssima Edite Soeiro. Tive a sorte incrível de me pagarem durante décadas para conhecer pessoas fascinantes, lugares e coisas a que de outro modo não chegaria e ainda por cima escrever sobre isso tudo. Como professora prezo a vantagem de ser financiada para aprender, um dos meus vícios recorrentes, os Colegas extraordinários que me foram moldando mas principalmente as muitas centenas de Alunos que há mais de 30 anos me encantam e enriquecem, venham de onde vierem.
Afinal não fui para trapezista. Sou omnívora no que concerne a palavras, filmes, sorrisos e bons vinhos. Estimo flores e cores, criançada, bicharada, portas, brindes, algazarras e silêncios dos bons. Enervam-me comidas com nomes compridos e calçado que faça barulho.
